quarta-feira, 2 de julho de 2014

poesia pra acordar dentro da pasta de dente de uma vez por todas ou olhar pela janela sem entender como é possível ninguém ver a cor que você inventou

apresentação.
ensaio poético sobre a transmutação do ovo 

título possível: ovo cozido na gordura, óleo que afogou minhas formigas, morte da mosca pelo gás do buraco da mangueira que vazava perigosamente 

venha.
....

antes, quebre o ovo num copo
certifique-se de que a gordura esteja quente
agora lembre-se: cuidado com o gato,
ele está sempre por ali

quebre a máscara
não deixe que a torneira pingue burburinho
o chuveiro não é lazer

* o mundo é uma casinha de criança?

vire assim, a gema ainda está mole?
grudou na frigideira da mãe natureza,
já desconfiava.
tente consertar a máscara,
gangster puto — ainda dizem: ele é um poeta incompreendido!
olha, um poeta incompreendido!

às favas!

o chuveiro não pode molhar
a goteira não pode chorar
o gato é só uma distração dos infernos

* cuidado com quem sempre está ali

a gordura nunca queimou quem sabe tapar a boca

o ovo é o regurgito que choca os veganos
a máscara é a gema mole que não formou o pinto
está claro: a clara não pode ser de outra cor

tente consertar o pinto
a cueca não é inerente ao galo
na mãe natureza quando se liga o chuveiro é chuva

nenhuma mosca jamais sobreviveu à Hiroshima
nenhuma flor deslizou pela tubulação de gás lá de baixo,
no fogo do inferno:
grite miau ao maldito incompreendido gangster puto poeta!

depois vire e volte a tapar o burburinho da torneira.

* esqueça o ovo por hora

esprema o furúnculo da serpente
ela entrou pelo orifício da mãe natureza
e agora serpenteia o mundo com um garfo na mão —
comerá o núcleo, mas precisa de sal.

quebre a máscara depois de consertada
a vida não morre senão 7 vezes
e justamente por isto ninguém pisa de sapato
em meu tapete de gato
(a não ser quando já está fedendo a cachorro molhado)

* volte ao ovo agora

depois, despeje gordura quente em sua caixa d'água.
desligue o fogo e vá banhar-se

lembre-se: o gato pode comer toda a ração de seu peixe maior
os peixinhos são muito saborosos
a cobra adora cobrar essas memórias oceânicas borbulhantes
...

últimos ensinamentos da mosca antes de morrer no gás:

saia do banho, esqueça a cueca e jamais,
jamais passe pomada nas feridas — agonize.
coloque música sacra enquanto isto

lembre-se que os convidados são faquires indianos —
estes abominam sal.
esqueça o sal.

* tenha classe ao pedir que tirem as sandálias antes de pisarem no gato-tapete.

feche a torneira antes de afogar o peixe
não faça do furúnculo um santo:
a cobra não pode agradecer sua boa ação,
ela é do tipo que estupra e foge pelas entranhas

conserte a máscara do poeta incompreendido
e coloque-a quando os convidados chegarem
diga que o peixe maior é o anfitrião e deixe-os à sós com os vômitos da galinha

saia de fininho antes que o gato gorfe sangue
é menstruação
é distração dos infernos
é a queda da monarquia ralando os joelhos do rei.

quebre um último ovo no mesmo copo e abra a janela
(sua cor está lá)
mire o orifício da mãe natureza e atire-se

aproveite a chuva ácida que cai das torneiras dos olhos dos veganos que choram o ovo morto
e deslize em direção à cobra
serpenteie igual

não pense que é suicídio
apenas atire-se com violência ao centro do núcleo da mãe natureza
aquela coisa amarela e vermelha, aquele arenque gordo menstruado

atire-se e assim estará no centro da gema sem cueca
aquela coisa ensolarada

* você sofrerá as dores dos gatunos poetas do inferno da incompreensão/
não é tão ruim

você se tornará um ovo
você será quebrado em um copo porque pode estar podre
faquires indianos te comerão sem sal
o peixe maior sorrirá irônico quando eles o mastigarem ouvindo tua música de santo incompreendido

a partir daqui é com você, pinto frito — iguaria de faquir cético sem sal.

Maringá, inverno de 2014

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