segunda-feira, 2 de junho de 2014

fotografias

fotografias falam, são como cascas de laranja
que deixam cheiro; a voz é o sumo,
o olhar, o inteiro — 
a pose, o odor silencioso, teu azedo.

fotografias são avós em preto e branco, 

filhos ainda bonitos,
sorrisos que contemplam a posteridade,
momentos que acabam entre aspas,
como sonhos que não foram esquecidos 
por nunca terem existido;

fotografias são palavras mudas,
olhares furtivos, silêncio do mar quebrando o tempo.
as rochas degradam, a pele enruga,
o sorriso amarela a intempérie da vida. 
fotografias superam e faz arder
como se qualquer ardor fosse possível, como televisores — 
o inanimado, o abstrato colecionador de olhares 
que nunca existiu ou se importou com isto.

fotografias ocupam um espaço nunca preenchido por ninguém.

Nenhum comentário: