ainda que os tipos
que se escondem embaixo da cama na escuridão de suas mentes se dizem mais
contemplativos, mais vigorosos no julgar os espíritos que perambulam o mundo da
realidade, da claridade, do frio e calor, da chuva — ainda que dizem conhecer
quais os sentimentos que derrubam o homem, que o torna infeliz, que o oprime —,
estes ainda são os seres mais interessantes, mais vigorosos, seus corpos não
atrofiam e diferente dos ditos conhecedores da verdade ou da mentira, os
intelectuais, os doutos de todos os quartos escuros e mofados do mundo, eles
conseguem dirigir seus corpos à padaria e trazem o pão e
contemplam os rostos com interesse vivaz e sabem que todas as árvores possuem significado, um significado para além do nome que deram à ela, porque estão ali para serem observadas, contempladas e respiradas, não apenas classificadas, como classificam tudo — e tudo no escuro! assim como o cachorro que atravessa tranquilo a faixa de pedestres no sinal
aberto; tudo está no mundo e muito em breve deixará de estar e a isto estes
homens reclusos, rastejando embaixo da cama, não entendem, fogem da
vida propriamente dita, preferem o estudo intensificado, a estranha escravidão de uma única faculdade, o desespero do conhecer, mas se perdem com
tantas ideias, enlouquecem, uma loucura insalubre que não poderia ser
chamada loucura, mas sim uma espécie de doença que degenera quem entra em
contato com ela, porque intimida muitos espíritos despreparados. é premente a necessidade de transformar o
mal estar em ação, abandonar a volúpia de desejar o fim do dia ou da vida, encontrar o caminho da
claridade, do sol, do céu azul, dos voos da andorinha; é preciso dançar como gatos sobre telhados,
correr, fazer da vida uma espécie de bizarra felicidade, mesmo na tristeza,
usar tudo para transformar o todo, tanto dentro de si quanto ao redor, as
amizades, o dinheiro, a sabedoria, a ignorância em certos aspectos; dizer tudo,
calar. ouvir com o corpo. sentir os pés no chão antes de voar.
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