quarta-feira, 30 de julho de 2014

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ainda que os tipos que se escondem embaixo da cama na escuridão de suas mentes se dizem mais contemplativos, mais vigorosos no julgar os espíritos que perambulam o mundo da realidade, da claridade, do frio e calor, da chuva — ainda que dizem conhecer quais os sentimentos que derrubam o homem, que o torna infeliz, que o oprime , estes ainda são os seres mais interessantes, mais vigorosos, seus corpos não atrofiam e diferente dos ditos conhecedores da verdade ou da mentira, os intelectuais, os doutos de todos os quartos escuros e mofados do mundo, eles conseguem dirigir seus corpos à padaria e trazem o pão e contemplam os rostos com interesse vivaz e sabem que todas as árvores possuem significado, um significado para além do nome que deram à ela, porque estão ali para serem observadas, contempladas e respiradas, não apenas classificadas, como classificam tudo — e tudo no escuro! assim como o cachorro que atravessa tranquilo a faixa de pedestres no sinal aberto; tudo está no mundo e muito em breve deixará de estar e a isto estes homens reclusos, rastejando embaixo da cama, não entendem, fogem da vida propriamente dita, preferem o estudo intensificado, a estranha escravidão de uma única faculdade, o desespero do conhecer, mas se perdem com tantas ideias, enlouquecem, uma loucura insalubre que não poderia ser chamada loucura, mas sim uma espécie de doença que degenera quem entra em contato com ela, porque intimida muitos espíritos despreparados. é premente a necessidade de transformar o mal estar em ação, abandonar a volúpia de desejar o fim do dia ou da vida, encontrar o caminho da claridade, do sol, do céu azul, dos voos da andorinha; é preciso dançar como gatos sobre telhados, correr, fazer da vida uma espécie de bizarra felicidade, mesmo na tristeza, usar tudo para transformar o todo, tanto dentro de si quanto ao redor, as amizades, o dinheiro, a sabedoria, a ignorância em certos aspectos; dizer tudo, calar. ouvir com o corpo. sentir os pés no chão antes de voar. 

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