...
Aquele beco escuro da Al. Augusto Stellfeld de Curitiba
que desembocava sempre
na rua estreita dos prédios antigos
e altos de tijolos avermelhados
salpicados de pichações antiquadas de tempos imemoriais,
fazia parte da sua infância e não se ouvia um grito,
uma lamentação,
um choro,
nada,
apenas o ruído distante de gatos vagabundos e insanos que
devaneavam pelos telhados enlodados e rançosos,
completamente maculados pela chuva
e estava claro que
ninguém poderia estar mais sozinho do que você, ali.
que desembocava sempre
na rua estreita dos prédios antigos
e altos de tijolos avermelhados
salpicados de pichações antiquadas de tempos imemoriais,
fazia parte da sua infância e não se ouvia um grito,
uma lamentação,
um choro,
nada,
apenas o ruído distante de gatos vagabundos e insanos que
devaneavam pelos telhados enlodados e rançosos,
completamente maculados pela chuva
e estava claro que
ninguém poderia estar mais sozinho do que você, ali.
Sua noite tresnoitada, sua mente tão vazia;
seus passos acovardados,
empossados e em desalinho,
indicava o quão miserável um homem pode tornar-se.
Quantos ônibus já passaram
por este ponto esfarrapado com estes cartazes apagados
logo após este beco imundo?
Você é mais um doente insone
e sem cigarros ou perspectiva e não posso
deixar de te perguntar:
seus passos acovardados,
empossados e em desalinho,
indicava o quão miserável um homem pode tornar-se.
Quantos ônibus já passaram
por este ponto esfarrapado com estes cartazes apagados
logo após este beco imundo?
Você é mais um doente insone
e sem cigarros ou perspectiva e não posso
deixar de te perguntar:
Não se acabou o uísque, os sapatos lustrados
e as sedas
e as soirées e a boemia e a família?
O que sobras a ti,
então,
além dos vícios ignominiosos de uma vida de perdição e descaso?
Por que diabos
te preocupas com este cachorro que late para o vento tão placidamente?
então,
além dos vícios ignominiosos de uma vida de perdição e descaso?
Por que diabos
te preocupas com este cachorro que late para o vento tão placidamente?
Veja, sua pele de nada serve
e
em seu lugar
eu mendigaria esta companhia e me aconchegaria nela,
olhando sempre dentro destes olhos caninos de azeviche,
onde certamente sua vida toda se passa.
olhando sempre dentro destes olhos caninos de azeviche,
onde certamente sua vida toda se passa.
Zhiu, zhiu, zhiu...
Chame-o!
Cachorrinho, cachorrinho, cachorrinho...
Chame-o!
Cachorrinho, cachorrinho, cachorrinho...
Conte-me,
por que guardas tais recordações?
Pois sim, és tu, Deus!
por que guardas tais recordações?
Pois sim, és tu, Deus!
Te pergunto, portanto, divino vira-lata:
Lembra-te ainda dos Jazz dançados na década de 60,
das farras hippies sem preocupações,
quando este homem senil e em frangalhos possuía aquele Cupê vindima,
da Ford?
Lembra-te ainda dos Jazz dançados na década de 60,
das farras hippies sem preocupações,
quando este homem senil e em frangalhos possuía aquele Cupê vindima,
da Ford?
E sua notável esposa,
parisiense
exilada,
ostentando beleza,
amiúde admiração e quase sempre contentamento,
lembra-te?,
oh grande pai, possuidor de todas as memórias!
Nancy, Nancy, Nancy, eu grito!
Nancy, Nancy, Nancy, eu grito!
Sempre dentro de lindos robe-de-chambre
a esperá-lo,
com sua linda cabeleira negra e suas mãos castas...
a esperá-lo,
com sua linda cabeleira negra e suas mãos castas...
Tudo decai e se desconstrói,
deixando-nos perdidos,
sem rumo...
Dog, Deus, Dói.
deixando-nos perdidos,
sem rumo...
Dog, Deus, Dói.
E tu,
oh Grande Cachorro,
oh Grande Cachorro,
que és Deus e trás consigo em suas vísceras toda a dor de minha existência,
só consegues atentar-te ao vento?
Tu, que vistes minha ascensão e minha desgraça;
minha saúde e minha miserable falta de convalescência,
só podes mesmo atentar-te ao vento?
Pois aqui
deito-me e espero,
Suas explicações ou o próximo ônibus.
(...)
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