quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Estacionamento úmido

Eu sou um soldado aleijado
no meio de um vulcão em erupção
preciso de dois braços e já não posso enxergar meus pés

rogo constantemente por um copo d’água –
eu não tenho mais língua.

ela tem 29 e parece um estacionamento
eu tenho 27 e preciso de um cigarro  
e ela não tem família e não sabe dirigir
e ela espera que a mosca saia sem precisar tocá-la
e eu saio e ouço motores sendo desligados dentro de um úmido
e gelatinoso estacionamento fúnebre de carne insepulta

ela chora e diz que os prostíbulos a enoja
mas que a Augusta é uma rua de literais filhos-da-puta –
pra ela não dá mais.

Seu curso de gastronomia está no final
e agora quer ser uma conceituada chef de cuisine 
mas diz que um rabo daqueles não pode ficar trancado
numa cozinha de merda.

Os restaurantes estão cheios
as pizzarias estão cheias
e os carrinhos de cachorro-quente estão cheios

aos poucos os carros param e só podem demorar uma hora

eu tenho medo do que pode acontecer
pois meus pés derreteram e não saio do lugar a dias

decorei barulhos de novos e usados

minha boca não abre mais
meus olhos se fecharam
e tudo que sinto é uma grande queimação
pois dentro dela explosões tóxicas acontecem
e enquanto ela me queima em seu vulcão
recita receitas e grita para andarem logo com seus condimentos
                                               [antes que tudo passe do ponto
como sempre passou.  

Um comentário:

Lucas Barreto disse...

sensacional.

os carrinhos de cachorro-quente estão cheios