Eu sou um soldado aleijado
no meio de um vulcão em erupção
preciso de dois braços e já não posso enxergar meus pés
rogo constantemente por um copo d’água –
eu não tenho mais língua.
ela tem 29 e parece um estacionamento
eu tenho 27 e preciso de um cigarro
e ela não tem família e não sabe dirigir
e ela espera que a mosca saia sem precisar tocá-la
e eu saio e ouço motores sendo desligados dentro de um úmido
e gelatinoso estacionamento fúnebre de carne insepulta
ela chora e diz que os prostíbulos a enoja
mas que a Augusta é uma rua de literais filhos-da-puta –
pra ela não dá mais.
Seu curso de gastronomia está no final
e agora quer ser uma conceituada chef de cuisine
mas diz que um rabo daqueles não pode ficar trancado
numa cozinha de merda.
Os restaurantes estão cheios
as pizzarias estão cheias
e os carrinhos de cachorro-quente estão cheios
aos poucos os carros param e só podem demorar uma hora
eu tenho medo do que pode acontecer
pois meus pés derreteram e não saio do lugar a dias
decorei barulhos de novos e usados
minha boca não abre mais
meus olhos se fecharam
e tudo que sinto é uma grande queimação
pois dentro dela explosões tóxicas acontecem
e enquanto ela me queima em seu vulcão
recita receitas e grita para andarem logo com seus condimentos
[antes
que tudo passe do ponto
como sempre passou.
Um comentário:
sensacional.
os carrinhos de cachorro-quente estão cheios
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